Correndo risco de ser preso, Bolsonaro decide pedir ajuda para q… Ler mais

Em meio à prisão domiciliar determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu nesta segunda-feira (1º) uma visita política de peso: o deputado Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara dos Deputados e ainda uma das vozes mais influentes do Congresso. O encontro, realizado na residência do ex-mandatário em Brasília, durou pouco mais de uma hora e teve como tema central a possibilidade de avanço do projeto de anistia aos envolvidos nos atos de contestação às eleições de 2022. A reunião sinaliza que, mesmo sob restrição judicial, Bolsonaro mantém a intenção de se posicionar como protagonista no tabuleiro político nacional.
De acordo com aliados próximos, Bolsonaro quis ouvir de Lira qual é a real chance de o projeto prosperar no plenário da Câmara, especialmente considerando o poder de articulação que o deputado alagoano ainda exerce sobre parte da base governista e da oposição. Lira, que já foi considerado o principal fiador da governabilidade durante os quatro anos de mandato bolsonarista, mantém interlocução frequente com líderes partidários e, apesar de não presidir mais a Casa, conserva influência determinante sobre votações estratégicas.
Fontes que acompanharam a conversa relatam que Lira não ofereceu ao ex-presidente um cenário animador. Ele teria ressaltado que a proposta enfrenta resistências significativas entre líderes do centrão e que, até o momento, não há consenso para pautar a votação. Ainda assim, setores da oposição se organizam para intensificar nos próximos dias a pressão sobre o novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), na tentativa de destravar tanto o projeto da anistia quanto outras bandeiras de interesse da direita, como a extinção do foro privilegiado e a instalação da CPMI do abuso de autoridade.
A autorização para a visita de Lira partiu do ministro Alexandre de Moraes, relator dos processos que envolvem Bolsonaro no STF. O encontro ocorreu justamente na véspera do julgamento da Primeira Turma da Corte, que começará a analisar as acusações contra o ex-presidente e outros sete aliados por suposta tentativa de golpe de Estado após a derrota eleitoral de 2022. O timing da conversa, portanto, adiciona peso político ao gesto e evidencia a estratégia de Bolsonaro de se manter relevante no debate público, mesmo diante das restrições impostas pela Justiça.
Na avaliação de parlamentares, o movimento do ex-presidente reflete não apenas a busca por alternativas jurídicas, mas também a tentativa de reafirmar sua liderança sobre a base conservadora. “Ele mostra que, apesar da prisão domiciliar, não deixou de ser um ator político ativo”, comentou um deputado aliado, sob reserva. A reunião com Lira, um dos principais articuladores do centrão, seria uma forma de Bolsonaro reativar canais de influência que foram fundamentais durante seu governo, especialmente em momentos de crise.
Enquanto isso, líderes da oposição já articulam uma agenda de mobilização no Congresso. A ideia é pressionar para que projetos sensíveis ao bolsonarismo entrem em votação, numa tentativa de capitalizar o desgaste político do atual governo e fortalecer a narrativa de perseguição judicial contra Bolsonaro. O clima é de confronto direto, com parlamentares preparando discursos e atos que associam o julgamento no STF à disputa política que deve se intensificar nos próximos meses.
A visita de Arthur Lira à casa de Bolsonaro, em pleno contexto de prisão domiciliar e às vésperas de um julgamento decisivo, lança novas luzes sobre a complexa relação entre política e Justiça no Brasil contemporâneo. O episódio mostra que, ainda que juridicamente enfraquecido, Bolsonaro mantém fôlego para influenciar agendas estratégicas e tentar mobilizar sua base. Resta saber até que ponto o Congresso estará disposto a se engajar nessa ofensiva e quais serão os reflexos desse movimento em um cenário político cada vez mais polarizado e imprevisível.
