Comunicamos a morte de querido JORNALISTA, notícia pega todos de surp…

O jornalismo brasileiro perdeu nesta terça-feira (2) uma de suas figuras mais marcantes e polêmicas. Mino Carta, fundador e diretor de redação da revista CartaCapital, morreu aos 91 anos após enfrentar problemas de saúde que o mantiveram internado na UTI do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, nas últimas duas semanas. A informação foi confirmada pela própria publicação, que destacou a trajetória combativa e a contribuição decisiva de seu criador para a imprensa nacional. A causa da morte, até o momento, não foi divulgada oficialmente.
Nascido em Gênova, na Itália, em 6 de setembro de 1933, Demetrio Carta — conhecido por todos como Mino — chegou ao Brasil ainda menino, quando sua família se estabeleceu em São Paulo na década de 1940. Foi no país que ele construiu uma carreira sólida, desafiadora e, em muitos momentos, controversa, deixando uma marca indelével no jornalismo. Com olhar crítico e estilo afiado, Mino se tornou um dos principais responsáveis pela criação de veículos que mudaram a forma de se fazer imprensa no Brasil.
Sua trajetória é inseparável de algumas das marcas mais conhecidas do jornalismo nacional. Foi um dos fundadores da Veja, em 1968, revista que se transformaria na mais influente publicação semanal do país. Poucos anos depois, em 1976, ajudou a lançar a IstoÉ, com uma proposta editorial de contraponto à concorrente. E em 1994, em meio ao conturbado cenário político e econômico da redemocratização, Mino ergueu seu projeto mais ambicioso: a CartaCapital. A revista, reconhecida por seu viés progressista e pela crítica ácida à elite política e econômica, se tornou um dos principais espaços de debate no Brasil contemporâneo.
Antes mesmo das revistas, porém, Mino já havia deixado sua assinatura em outro marco: o Jornal da Tarde, lançado em 1966 pelo Estadão. A publicação inovou na diagramação e na linguagem jornalística, atraindo uma nova geração de leitores e mudando o modo como os jornais se comunicavam com o público. Essas experiências consolidaram sua reputação como um criador incansável, que não apenas escrevia, mas reinventava a forma de fazer jornalismo.
Mais do que empresário ou editor, Mino Carta foi um intelectual do jornalismo. Seu estilo era marcado por editoriais densos, referências à literatura e um olhar crítico sobre a realidade brasileira. Não poupava políticos, empresários ou colegas de profissão quando julgava necessário. Ao mesmo tempo, cultivava um público fiel que via em suas análises um contraponto à cobertura tradicional da grande imprensa. A CartaCapital, sob sua direção, assumiu a função de voz crítica, frequentemente nadando contra a corrente, e se manteve como referência mesmo em tempos de crise do jornalismo impresso.
Nos últimos anos, Mino enfrentava fragilidade de saúde, mas seguia participando ativamente das decisões editoriais e escrevendo colunas que refletiam sua visão de mundo. Com sua morte, encerra-se um ciclo de mais de seis décadas de atuação jornalística. Colegas e admiradores lembram-no não apenas como fundador de veículos, mas como mestre que formou gerações de repórteres, editores e críticos que passaram pelas redações que comandou. Muitos desses profissionais reconhecem nele o responsável por estimular um jornalismo mais livre, ousado e autoral.
A despedida de Mino Carta deixa um vazio difícil de preencher no cenário midiático brasileiro. Mais do que a perda de um editor, trata-se da partida de uma personalidade que moldou o jornalismo moderno do país, abrindo caminhos para novas vozes e consolidando um legado que transcende suas próprias publicações. Sua trajetória, iniciada como imigrante e consolidada como um dos maiores nomes da imprensa brasileira, permanece como inspiração para aqueles que acreditam no jornalismo como instrumento de transformação social. Aos 91 anos, Mino encerra uma vida dedicada à palavra impressa, mas seu impacto continuará ecoando nas páginas e nas ideias de quem defende a liberdade e a responsabilidade da imprensa.
