Curiosidades

Se você ver uma dessas fuja rapidamente, você corre risco de… Ver mais

O que à primeira vista parece ser apenas uma lagarta inofensiva, de aparência peluda e até curiosa, esconde um dos perigos mais traiçoeiros da fauna brasileira. Conhecida popularmente como “lagarta cachorrinho” – por sua semelhança com um pequeno animal de pelos –, essa espécie tem chamado a atenção de especialistas e autoridades de saúde devido ao aumento de acidentes envolvendo seu contato, muitos deles com consequências graves. Na contramão da aparência inofensiva, o inseto possui cerdas urticantes capazes de injetar toxinas potentes, que podem provocar desde reações leves até hemorragias internas e, em casos extremos, a morte.

O nome científico da lagarta é Lonomia obliqua, e ela é considerada uma das mais perigosas do mundo. Originária principalmente das regiões Sul e Sudeste do Brasil, vem expandindo sua presença em razão de mudanças climáticas e desmatamentos, que favorecem a dispersão da espécie para novas áreas. Segundo dados recentes do Instituto Butantan, só no estado de Minas Gerais houve um aumento de 40% nos registros de acidentes com essa lagarta nos últimos cinco anos. Em muitos casos, as vítimas sequer percebem o contato até que os sintomas começam a se manifestar.

O veneno da Lonomia age diretamente sobre o sistema circulatório, causando distúrbios de coagulação. Em situações mais severas, a toxina pode desencadear um quadro de coagulação intravascular disseminada (CID), em que o sangue coagula de forma anormal dentro dos vasos e, ao mesmo tempo, o corpo perde a capacidade de estancar sangramentos. Os sintomas incluem dor intensa, inchaço, manchas roxas, sangramentos pelo nariz e gengivas, urina escura e, nos casos mais críticos, insuficiência renal. Crianças, idosos e pessoas com histórico de problemas sanguíneos são mais vulneráveis a complicações graves.

Os acidentes geralmente ocorrem quando as lagartas, agrupadas em troncos de árvores ou em vegetação baixa, são tocadas acidentalmente por banhistas, trabalhadores rurais ou até crianças em parques. Por seu mimetismo com folhas secas ou musgo, muitas vezes passam despercebidas. Ao se encostar na pele humana, suas cerdas quebram e liberam o veneno. Uma das grandes dificuldades está na identificação rápida da espécie no momento do acidente, o que pode atrasar o tratamento médico adequado. Por isso, em regiões onde há registros da presença da Lonomia, recomenda-se evitar encostar em qualquer lagarta e procurar atendimento imediatamente em caso de contato.

O tratamento para os acidentes com a lagarta cachorrinho exige rapidez. O único antídoto eficaz é o soro antilonômico, produzido no Instituto Butantan, em São Paulo, e distribuído para centros de saúde em regiões de risco. No entanto, o acesso ao soro nem sempre é imediato, especialmente em áreas rurais. Casos graves exigem internação hospitalar e acompanhamento intensivo. Por isso, a prevenção segue sendo a principal estratégia de enfrentamento. Especialistas alertam para o uso de luvas ao manusear plantas, a supervisão constante de crianças em áreas verdes e a comunicação imediata com serviços de saúde ao menor sinal de exposição.

Campanhas de conscientização têm ganhado força, principalmente em escolas e comunidades agrícolas. No Paraná, por exemplo, agentes de saúde têm promovido oficinas e materiais informativos sobre a lagarta, explicando como identificá-la e o que fazer em caso de contato. Em muitas cidades, as prefeituras têm reforçado a limpeza urbana e a poda de árvores próximas a áreas públicas, para reduzir os riscos de acidentes. Já nas redes sociais, biólogos e ambientalistas vêm usando vídeos educativos para disseminar informações de forma acessível, desmistificando tanto o pânico exagerado quanto a negligência diante do perigo real.

A presença da lagarta cachorrinho nos ambientes urbanos e rurais é um reflexo direto do desequilíbrio ambiental causado pela ação humana. Com menos predadores naturais e mais áreas desmatadas, a espécie encontra terreno fértil para se proliferar. Diante disso, o desafio vai além da prevenção individual: é necessário um esforço coletivo para garantir segurança e informação. Saber identificar o perigo e agir com rapidez pode salvar vidas. E, principalmente, lembrar que, na natureza, nem tudo que parece inofensivo é realmente seguro. A Lonomia obliqua é um lembrete vivo — e venenoso — de que o conhecimento é a melhor forma de proteção.