Grande nome do Carnaval morre ao realizar supino em academia

A manhã da quarta-feira, 3 de dezembro, começou de forma diferente em Olinda. Em poucas horas, a notícia se espalhou pelos ateliês, ladeiras e grupos culturais da cidade: Ronald José Salvador Montenegro, de 55 anos, presidente do Palácio dos Bonecos Gigantes e um dos nomes mais atuantes da cultura popular pernambucana, havia falecido. O impacto foi imediato, e ninguém esperava uma despedida tão repentina.
Ronald sofreu um acidente enquanto fazia exercícios em uma academia. Durante o supino, a barra escorregou e atingiu seu peito. Ele estava acompanhado de um personal trainer no momento do ocorrido. Segundo as informações apuradas, ainda conseguiu se levantar após o impacto, mas logo passou mal. Foi socorrido rapidamente e levado a uma unidade de saúde, onde não resistiu.
A academia lamentou profundamente o ocorrido, afirmou que o atendimento foi prestado imediatamente e reforçou que todo o suporte necessário foi oferecido. O caso foi registrado como morte acidental na Delegacia de Rio Doce. Mesmo assim, o clima entre amigos, familiares e a comunidade cultural é de incredulidade.
Pouco tempo depois da confirmação da morte, o Centro Cultural Palácio dos Bonecos Gigantes divulgou uma nota comovente: “Perdemos não apenas um líder, mas um amigo, um criador, um defensor apaixonado pela Cultura Popular”. Para quem convivia com Ronald, essas palavras descrevem bem quem ele era fora dos holofotes — alguém que fazia da arte um propósito diário, e não apenas um discurso.
Nos bastidores do Carnaval, Ronald era conhecido por chegar cedo, sair tarde e nunca reclamar do cansaço. Entre tintas, tecidos, estruturas de madeira e ideias que pareciam não ter fim, ele ajudou a transformar o Palácio dos Bonecos em um dos maiores símbolos de Olinda. Turistas, moradores, artistas e crianças encontravam nele sempre uma boa palavra, um conselho ou até uma bronca carinhosa quando necessário.
A poucos meses de mais um Carnaval, a falta que Ronald faz já é percebida. Nas oficinas e nos maracatus, os comentários giram em torno de sua ausência. Muitos lembram das reuniões improvisadas, das conversas animadas sobre os temas dos bonecos e da maneira firme, mas acolhedora, com que resolvia conflitos. Ele não era apenas um presidente. Era alguém presente.
Família e amigos agora enfrentam um momento de dor, despedida e saudade. Quem estava mais próximo conta que Ronald estava animado com novos projetos e sonhando alto, como sempre fez. Sua relação com a cultura popular não era apenas profissional — era quase uma extensão de si mesmo.
Olinda, uma cidade que vive tradição, amanheceu mais silenciosa. O luto não está só nos prédios históricos ou nos ateliês que fecharam mais cedo. Está nas pessoas, nos olhares emocionados, nas conversas cheias de lembranças, no vazio deixado por alguém que fazia tanto todos os dias sem buscar aplausos.
A morte de Ronald Montenegro deixa uma marca profunda e também um legado difícil de apagar. Seus bonecos permanecem de pé. Suas ideias continuam circulando. Seu nome agora integra a história que ele ajudou a construir com as próprias mãos.
Assim, em meio à dor e à saudade, Olinda se despede de um de seus maiores defensores. Não como quem diz adeus para sempre, mas como quem entende que certas pessoas continuam vivendo nas cores, nas ruas e na alegria que ajudaram a espalhar.





