Notícias

Em clima de guerra, Trump mais uma vez crítica o Brasil, dessa vez ele quer acabar com… Ver mais

O PIX, sistema de transferências instantâneas criado pelo Banco Central do Brasil, conquistou a confiança dos brasileiros e se transformou em um símbolo de inovação financeira. Mas, ao que tudo indica, a popularidade da ferramenta ultrapassou fronteiras – e agora está no centro de uma polêmica internacional que pode colocar o Brasil e os Estados Unidos em lados opostos de uma disputa comercial.

Na noite desta terça-feira (15), o Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) anunciou a abertura de uma investigação formal contra o Brasil. A motivação? Práticas consideradas desleais no setor de serviços digitais e pagamentos eletrônicos. Embora o relatório americano não cite diretamente o PIX, a menção a “serviços governamentais de pagamento eletrônico” levanta suspeitas sobre o alvo real da denúncia.

“O Brasil também parece se envolver em uma série de práticas desleais com relação a serviços de pagamento eletrônico, incluindo, mas não se limitando a favorecer seus serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo”, afirma o documento.

A investigação foi iniciada a pedido do ex-presidente Donald Trump, que, mesmo fora da Casa Branca, continua influente em setores do governo americano. A alegação principal é de que o Brasil estaria prejudicando a competitividade de empresas norte-americanas que atuam no mercado digital, ao oferecer um sistema gratuito e de ampla adesão como o PIX.

A reportagem do g1 entrou em contato com o Banco Central e com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) para comentar se o sucesso do PIX — gratuito para pessoas físicas — estaria de fato impactando a receita de instituições financeiras e, consequentemente, afetando interesses comerciais estrangeiros. Até a última atualização, nenhum posicionamento havia sido emitido.

PIX: Uma Inovação que Mudou o Jogo

Desde seu lançamento em novembro de 2020, durante o auge da pandemia da Covid-19, o PIX provocou uma revolução no comportamento financeiro dos brasileiros. Simples, rápido e gratuito, ele caiu no gosto da população e cresceu em um ritmo impressionante.

Somente em 2024, o sistema movimentou mais de R$ 26,46 trilhões — um aumento de 54,6% em relação ao ano anterior. Foram 63,5 bilhões de transações, um salto considerável frente aos 41,68 bilhões registrados em 2023. Os dados são do Banco Central.

Além dos números superlativos, o PIX se destacou por sua capacidade de inclusão financeira. Em regiões remotas, onde o acesso a agências bancárias é escasso, o sistema permitiu a milhares de brasileiros entrarem no universo dos pagamentos digitais. Pequenos comerciantes, vendedores autônomos e microempreendedores também se beneficiaram da praticidade e agilidade oferecidas pela ferramenta.

“É impressionante como o PIX se tornou parte do cotidiano, especialmente entre os pequenos empreendedores e quem trabalha informalmente. Hoje, até quem vende pela rede social consegue receber instantaneamente, algo impensável há alguns anos”, afirmou o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, Renato Gomes, durante evento comemorativo dos quatro anos do PIX, em novembro passado.

WhatsApp Pagamentos e a Sombra do PIX

Outro capítulo que intensifica a tensão entre Brasil e Estados Unidos é a decisão da Meta — controladora do WhatsApp — de descontinuar no país, em dezembro de 2024, a função de pagamento via cartão de débito entre pessoas físicas. O serviço, lançado em 2021, exigia vínculo com cartões de bandeiras como Visa e Mastercard e contava com a parceria de grandes bancos brasileiros.

Segundo nota divulgada pela empresa à imprensa, a decisão de retirar a função foi estratégica: o objetivo seria priorizar as transações via PIX, que já haviam se tornado majoritárias entre os usuários.

Esse movimento foi interpretado por analistas como uma clara demonstração de que até gigantes da tecnologia precisaram se adaptar ao fenômeno PIX. E agora, isso parece ter incomodado o governo norte-americano, preocupado com a influência crescente de um sistema financeiro que escapa ao controle das tradicionais operadoras internacionais de pagamento.

O Que Está em Jogo

A investigação aberta pelo USTR representa mais do que uma simples divergência comercial. Ela reflete o incômodo de potências econômicas diante de uma solução inovadora, criada e operada por um país emergente, que conseguiu driblar velhas estruturas do sistema financeiro internacional.

Enquanto o processo tramita, especialistas alertam para possíveis consequências: pressões diplomáticas, barreiras regulatórias e até retaliações comerciais podem surgir no horizonte.

Por outro lado, o PIX já se firmou como um exemplo a ser seguido. Países como Colômbia, Argentina e México estão em processo de estudar modelos similares, e representantes da União Europeia já demonstraram interesse em compreender os mecanismos do sistema brasileiro.

A disputa está apenas começando, mas uma coisa é certa: o PIX ultrapassou as fronteiras da inovação e agora ocupa o centro de um debate global sobre o futuro dos pagamentos digitais.