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De ex-usuária de drogas para formada, aos 55 anos Solange realiza o sonho de ser… Ver mais

Por trás de uma dança espontânea, escondia-se uma história de dor, fé e superação. Cinco anos depois de emocionar o mundo ao dançar “Holiday”, de Madonna, em um bar de Manaus, Maria Solange Amorim celebra uma nova conquista que parece tão improvável quanto sua própria sobrevivência: aos 55 anos, ela acaba de concluir o ensino médio e agora sonha com um diploma de psicologia.


Na noite abafada de Manaus em 2020, um vídeo balançou as redes sociais e atravessou fronteiras. Uma mulher descalça, com movimentos intensos e olhos cheios de emoções dançava “Holiday”, de Madonna, com uma mistura de liberdade e dor que não cabia em palavras. O que ninguém sabia — ainda — é que aquela apresentação improvisada era uma tentativa desesperada de espantar o luto, a saudade e os fantasmas do vício.

Madonna viu. O mundo viu. E Maria Solange se tornou símbolo de algo maior: a chance de recomeçar.

Hoje, quatro anos, onze meses e 22 dias de sobriedade depois — como ela faz questão de lembrar com precisão —, Maria atravessou mais um marco pessoal. Formou-se pelo curso de Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Guarulhos, na Grande São Paulo. Um momento aguardado por décadas, finalmente realizado.

“Era um sonho de adolescência. Hoje, com 55 anos, eu digo: tudo que você colocar em prática e correr atrás, dá certo. A gente consegue. Eu consegui”, disse ela, emocionada.

Essa conquista, no entanto, está longe de ser o ponto final. É só o próximo capítulo de uma jornada que Maria escreve com coragem, fé e lágrimas secas. Agora, ela mira o Enem. Quer cursar psicologia. Quer entender — e ajudar a curar — dores como as que quase a destruíram.

O Vídeo Que Mudou Tudo

Maria Solange já era invisível para muitos quando decidiu dançar. Naquele bar de Manaus, a música era mais que trilha sonora: era grito, era memória. Ela dançava para o filho, morto dias antes. A dor transbordava nos gestos.

Foi essa dança que viralizou. Foi esse vídeo que Madonna compartilhou. E foi esse gesto que, ironicamente, salvou uma vida.

“Esse vídeo é o meu eu, é a minha dor. É a minha dedicação para o meu filho”, contou Maria, em entrevista ao Fantástico.

A repercussão foi imediata. Pessoas de todas as partes do Brasil se mobilizaram para ajudá-la. Internação, apoio psicológico, moradia. Maria teve a chance que tantas outras Marias não têm: recomeçar com dignidade.

A “Marina Silva de Manaus”

Na internet, Maria foi apelidada de “Marina Silva de Manaus”, por sua semelhança física com a ex-ministra. Mas a verdadeira transformação não estava na aparência. Estava na alma. E nas pequenas escolhas diárias que a mantinham longe das drogas.

Hoje, ela acumula mais de 100 mil seguidores nas redes sociais. Compartilha mensagens de fé, resiliência e otimismo. Muitos a seguem não pelo passado, mas pelo que ela representa: a possibilidade de um futuro melhor, mesmo depois do abismo.

“Com humildade, honestidade, paciência e sabedoria espiritual pra suportar afrontas, que não são poucas, a vida flui”, declarou. “É necessário estar sóbria. Com fé, garra e coragem, vou pegar meu segundo canudo em psicologia dentro de cinco anos.”

Da Rua para a Passarela

A transformação de Maria Solange também passou pelos palcos. No ano passado, ela foi convidada para assistir a um show de Madonna no Rio de Janeiro — um momento simbólico que fechou um ciclo iniciado com lágrimas e passos de dança.

Durante a apresentação, dançou novamente. Não por desespero. Mas por celebração. Era um tributo ao filho, sim. Mas também a si mesma. À mulher que se recusou a ser apenas um retrato de tragédia.

O Próximo Capítulo

Com o diploma do ensino médio nas mãos, Maria Solange prova que sua história é mais que um viral. É um roteiro real de superação, daqueles que desafiam estatísticas, silenciam preconceitos e inspiram uma geração que ainda acredita em recomeços.

Ela quer mais. Quer ser psicóloga. Quer cuidar de gente. Quer ser prova viva de que, mesmo quando tudo parece perdido, ainda é possível escrever um novo destino — com fé, força e, por que não, ao som de Madonna.